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Dream Theater

Há algo de majestoso neste novo álbum de Dream Theater. É uma rendição ás origens, um self-titled album que congrega a essência da banda e as suas influências. A cover transporta-nos pictoricamente para o espaço sonoro onde a acção se desenrolará, de imediato nos apercebemos da contemplação auditiva que esta música proporcionará.

A primeira virtude que se destaca de imediato é o fabuloso som. Particularmente, há um quilométrico salto em frente no som da bateria e do baixo comparativamente ao álbum anterior. Tenho a certeza que vai ser matéria discordante, os breaks por vezes soam um pouco “eighties” e a tarola tem uma presença e timbre quem em muito beneficia a “personalidade” do álbum, um pouco à imagem do “Images and Words”, a comparação é inevitável mas desta vez é pela positiva. Inicialmente, o álbum pode parecer overproduced, um julgamento que se desvanece após uma audição mais minuciosa procurando entender a intenção dos DT.

Há uma coerência durante todo o álbum, consequência não de uma variação sobre o mesmo tema como num álbum conceptual, mas de uma clara intelectualização sobre a estrutura do mesmo, da forma e harmonia em cada uma das músicas. Uma clara intencionalidade conseguida através de espetaculares aberturas onde o Jordan Rudess abandona por momentos o shred nos teclados e estabelece o épico ambiente sonoro com belíssimos acordes, expandindo a música para um espaço que antes havia ocupado e que os fãs há muito reclamavam.

As influências de Rush sentem-se como nunca, principalmente nos melhores momentos do álbum: “The Looking Glass”, aquele riff e a bateria não deixam dúvidas; “Surrender To Reason”, o James LaBrie (em grande forma!)  encerra a belíssima parte acústica invocando a “Tears” do 2012; “Illumination Theory” é uma embaixadora de todo o prog, não apenas Rush. O baixo do John Myung volta à ribalta e fala com a voz do Geddy Lee, iluminando a sombra onde tem estado desde o segundo álbum, com enorme qualidade e subtileza.

Outra boa notícia é o regresso de um instrumental bem interessante, a “Enigma Machine”, embora isso seja redundante no caso desta banda que não perde uma oportunidade de despejar todos os recursos técnicos em cada nesga de terreno que o possibilita. Pela primeira vez, abrem o  álbum com uma faixa composta exclusivamente para o efeito. Confesso que a primeira vez que a ouvi pensei que fosse Symphony-X,  e estivesse na presença daqueles fakes que fãs mais ansiosos inventam para ocupar o tempo até ao lançamento oficial.

Pela sua capacidade como músicos, são capazes de abrilhantar uma melodia relativamente medíocre. Veja-se o caso de “Along For The Ride”, plena de belos arranjos e com um inesperado toque de prog  após o primeiro refrão, o majestoso verso a resolver o refrão refresca o que poderia ser uma banalidade, o solo do Jordan Rudess e o baixo muito Geddy Lee-like do Myung, são condimentos que contornam o convencionalismo.

Este 12º álbum de DT seguiu uma fórmula que eu também pratico na vida, deixar o melhor para o fim e saborear a expectativa. A “Illumination Theory” é uma das melhores músicas de DT e, pelo gabarito e duração de 22 minutos,  junta-se à “Change Of Seasons” como os grandes épicos da banda. Desde a fabulosa abertura, do interlúdio de cordas até aos solos que invocam os gloriosos 70’s dos Yes, nunca esmorece nem resvala para o devaneio criativo.

Sem apresentar radicais novidades a nível musical – tem acontecido desde o Six Degrees Of Inner Turbulence, aliás motivou a saída do Mike Portnoy – o Dream Theater é uma lufada de ar fresco, pura contemplação sonora e, a bem da verdade, é um alívio pois o último, apesar de algumas coisas engraçadas, era afinal uma transição, um turn of events para este onde o baterista Mike Mangini, já integrado no processo de composição,  tem um trabalho excepcional. O single “The Enemy Inside”, apesar de levantar o véu para o som do resto do álbum, não é o melhor tema mas foi uma forma inteligente de causar uma agradável surpresa com o que após se seguia.

Belo álbum, uma simbiose perfeita entre energia e melodia, salta directamente para o top.

Imagem daqui.