Etiquetas
André Matos, Angra, Bruno Valverde, Fabio Lione, heavy-metal, Música, Prog-Metal, Rafael Bittencourt, secret garden, Symphony-X
Os Angra é uma banda que luta contra o saudosismo do passado por parte dos fãs que, constantemente, a cada álbum, clamam pelo som dos anos 90 e pela voz do André Matos. Julgo que os fãs e críticos confundem a ternura da nostalgia – muitos eram adolescentes quando começaram a ouvir Angra, incluindo eu – com uma evolução musical clara, implicante de mudanças na paisagem sonora. Todas as bandas que têm um início muito afirmativo em termos de estilo padecem das mesmas críticas quando mudam e procuram aprofundar a composição. Angra demonstrou desde início um talento, uma consistência, uma disciplina e até uma ingenuidade musical que recrutou base de fãs muito respeitosa.
Angra nunca toucou no core da massa metaleira porque é muito melódico, não é agressivo; mas também não conquistou completamente a franja dos metaleiros que ouvem power-metal, nem aqueles marginais – onde me incluo – que entendem o metal como uma forma óbvia de fazer música e tudo pode incluir, estabelecer estilos musicais é apenas uma muleta preguiçosa de falar sobre música que em muito reduz e limita o trabalho das bandas na hora da composição.
Os Angra expandiram o horizonte do heavy-metal até ao rio Amazonas, introduzindo elementos do folclore brasileiro sem estar limitados à percussão típica: o ritmo das guitarras tem um sabor exótico, por exemplo, a “Petrified Eyes” e a”Extreme Dream” do álbum Fireworks.
O cenário musical não mudou muito neste novo álbum, o Secret Garden.
Este álbum é bom, de imediato faz lembrar prog-metal dos Symphony-X, porque os ritmos complexos são mais proeminentes e as guitarras um pouco mais pesadas – afinadas abaixo pela primeira vez -, mas com muito mais musicalidade e cor. Mantém-se o excelente artwork.
Saúdo o regresso de uma bateria poderosa nas mãos do jovem Bruno Valverde e a voz mais capaz de Fabio Lione, são duas grandes contratações e fica assim garantido o virtuosismo musical. Este último apenas canta em metade do álbum, já que o Rafael Bittencourt e duas vocalistas convidadas cantam na outra metade, é uma novidade à qual torço o nariz porque o vocalista é muito bom e se era para fazer isto, que fosse nos álbuns anteriores.
É um álbum com grandes momentos, tendo no fusion de “Upper Levels” como expoente máximo – as guitarras soam a Holdsworth por vezes -, algumas participações femininas que pouco acrescentam ao álbum, e umas rifalhadas de luxo. É mais intenso em termos sonoros, por vezes o teclado sobrepõe-se um pouco, é o caso da “Storm of Emotions”, há um contributo claro da produção neste domínio. O speed clássico do power-metal é afirmado em “Black Hearted Soul” e “Perfect Simmetry”.
Os velhos tempos de Angra vem sempre à tona, é dispensável a melancolia saudosista, todos os álbuns da banda são muito bons e este é mais um deles. É de louvar a visita ao território do prog-metal, mas é apenas mais uma das consequências do experimentalismo ousado de músicos de grande nível e criatividade.