Recentemente tem havido uma balbúrdia lançada por artista destas coisas, eu admito que tenho uma certa simpatia pela figura, pelo cariz humorístico absolutamente hilariante do seu discurso, e por uma inteligência social disfarçada naquele estilo circense, não é um homem estúpido. A questão lançada pelo sr. Alberto João Jardim é pertinente, o comunismo é moralmente equivalente ao fascismo. Eu tenho que começar por dizer que estas questões são muito complexas, envolvem uma linguagem por vezes difícil de entender e eu não tenho conhecimento suficiente para falar disto de uma forma, digamos académica, tal como devem ser tratados estes assuntos, mas como estamos na blogosfera, a tasca da Internet, este assunto é como tremoços, vão-se comendo as palavras e no fim não resta nada, cada um comeu o que quis ou pôde. Eu adoro estes petiscos ideológicos, e como-os como um habitante da Boalhosa (remota terra de Vila Verde) comeria caviar, sem intelectualizar, apenas saboreia.
Penso que a discussão deve começar por esclarecer (coisa que não vai acontecer, porque já se discute isto à anos e não se chegou a um consenso) se as ditaduras comunistas são uma perversão (é sempre esta a palavra utilizada e parece-me acertada) da ideologia marxista ou uma consequência lógica da sua própria concepção. É uma grande diferença, mas sinceramente, eu inclino-me mais para a segunda. Para clarificar o que penso dou o seguinte exemplo. Vilarinho da Furna, na Peneda-Gerês. Trata-se de uma aldeia que desapareceu devido à construção da barragem. As pessoas viviam em comunidade. Tinham leis próprias, havia terras que pertenciam a cada um, mas havia outros terrenos que eram partilhados pelas pessoas, com tarefas pré-definidas para cada um e democraticamente aceites. Havia uma assembleia onde se discutiam os problemas comuns a todos e se votava qual a melhor solução. Isto trata-se de um pequeno exemplo de uma perfeita democracia popular onde a partilha é uma base fundamental. Desconheço mais pormenores sobre a economia desta terra, já me falaram muito nisto, mas não me recorda e a informação é escassa. Seja lá como for, certamente estas pessoas não faziam isto porque tinham bandeiras vermelhas em casa, tratava-se apenas da lógica da sociedade humana. A entre-ajuda e a resolução dos problemas em conjunto. O que se passa é que todas as pessoas se conheciam, podiam olhar nos olhos uns dos outros e discutir, coisa que não se pode fazer num país com 50 milhões de pessoas. Penso que esta questão é fundamental. É impossível generalizar esta ideia a um país inteiro. A gestão da propriedade em pequena escala é relativamente simples, todos podem ter uma palavra, mas isso não acontece em larga escala, a opinião de cada um dilui-se numa utopia, num sonho de um homem que perante a tremenda injustiça que imperava no seu tempo, idealizou uma sociedade igualitária, onde todos tivessem oportunidade. Não funcionou. A aplicação do comunismo falhou redondamente, os seus porta-vozes como Estaline ou Lenine são recordados como ditadores que com o seu sistema condenaram à morte milhões de pessoas.
Qual é a diferença em relação ao fascismo? Há várias, uma que é essencial é o fascismo assenta no principio que o estado é digno de obediência e subserviência por parte do povo e não um “instrumento” para o bem estar comum. Nem sequer vou falar dos princípios racistas e ultra-conservadorismo que estão associados ao fascismo. A questão do papel do estado faz toda a diferença. O que causa estranheza é que os estados comunistas não agiam em prol do bem comum, muito pelo contrário, toda a riqueza estava nas mãos do estado e o povo (aqueles que sobreviviam) na miséria.
Pode-se estão assumir que qualquer governos comunista iria governar dessa forma? É inevitável? Muita gente estudou este fenómeno, sinceramente não sei responder. Mas as experiências que ocorreram até ao momento foram más demais, e aquelas que ainda decorrem (Cuba, Venezuela, etc) são são grande exemplo de democracia.
Quando se fala em proibir o comunismo, trata-se de abolir uma ideologia e não proibir regimes totalitários, senão apenas se estava a constatar o óbvio. Um coisa é certa, abolir ideologias é uma das principais armas de repressão dos regimes fascistas. Uma lei dessas iria causar muita discussão, a nível europeu existe muita gente que ainda acredita que é possível. E muito boa gente, não se tratam de pessoas estúpidas, apenas acreditam verdadeiramente numa sociedade perfeita, mas que não pode existir. Somos demasiado gananciosos para partilhar.
Isto é algo que me consome a cabeça desde há muito tempo. O capitalismo selvagem sem ética que existe agora na nossa sociedade actual, é algo ao qual me oponho profundamente, por outro lado um sistema que “acorrente” o inevitável diferenciamento entre as pessoas é contraproducente e injusto. Como é que se pode censurar alguém que é inteligente e tem visão, trabalha imenso e consegue montar uma empresa com sucesso e ganhar rios de dinheiro? Vão-se obrigar todas as pessoas a ser pobres e a viver de certa maneira? Partilhar com quem não quer fazer nada? (Este argumento é muito utilizado pela extrema-direita) Também não é justo.
Esta é uma visão extremamente simplista que eu tenho sobre o assunto, muito mais se pode dizer. Fundamentalmente, discorda da comparação que é feita entre os dois regimes, a maioria dos argumentos dados afasta-se da ideologia original e enfatiza as consequências da sua aplicação. Consequências essas, de tal magnitude que na minha opini4ao justificam um maior pragmatismo, não cínico mas sim construtivo, em relação à honestidade colectiva da Humanidade ao contrário do que os comunistas tem. Muita gente do lado dos comunistas ficou escandalizada com a proposta, defendem que foi à custa destas experiências socialistas que se criou o ensino público e acesso a tratamentos de saúde, coisas fundamentais. Mas mais uma vez, as consequências foram igualmente más, não à escolha possível entre as duas, mas cada macaco no seu galho. Estas questão está a ser vista de uma forma superficial, com argumentos da parte da direita que nunca visaram a ideologia, apenas a sua aplicação.
Muito sinceramente, com tantos problemas que existem neste momento, um crise que certamente não foi fomentada por ideologias comunistas, parece-me uma questão ao nível de que deviam haver mais rebuçados de morango nas embalagens de rebuçados com vários sabores.
Neste link, pode-se consultar o manifesto comunista redigido por Karl Marx e Friedrich Engels, é nesse documento que estão explanados os princípios fundamentais do comunismo. Neste outro encontram-se algumas reflexões sobre o fascismo e o comunismo.