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“O lado negro das energias verdes”, é o título sensacionalista deste documentário que passou na RTP.
Sei que imediatamente se inquietam as almas com a suspeita de estarmos perante mais uma promoção de teorias da conspiração com o propósito de manter o status quo das petrolíferas e adjacentes negócios. Não é o caso. A questão não se coloca como um combate entre a trincheira do petróleo e trincheira das renováveis, embora seja colocada nesses termos. Há diferentes visões.
A extracção dos metais raros, necessários para o fabrico de baterias e outros componentes, provocam um severo dano ambiental. As imagens da China, do Chile, o impacto das actividade mineira na saúde das populações é chocante. Estas tecnologias são apresentadas como neutras, mas não é assim.
Acalmam-se as consciências ocidentais com a adjectivação verde das novas práticas, mas o problema subsiste, lamento. Não duvido das boas intenções de muitas pessoas mas, simplesmente, movemos o problema de um lado para o outro, não é esta a solução.
Do lado da energias renováveis está a crença na inovação tecnológica, na criação salvífica. Temos de pôr esta concepção em perspectiva. Não duvido da tremenda imaginação da Humanidade, mas estamos constantemente a remendar o problema.
O futuro, se o queremos saudável, passa por uma reformulação ontológica da nossa espécie, em termos da noção de progresso como acesso a consumo. Não concebo a História como o avançar da criatura maligna que é o Homem; o que fizemos foi impelido pela necessidade, mas a encruzilhada histórica em que nos encontramos agora, exige um rumo diferente.
Não se tratam das experiências sociais do séc. XX que advogo, rejeitar as pessoas, não, é um apelo espiritual. Mas como vender a ideia de menor consumo? Ninguém ganha eleições com esta mensagem, a tradição é a promessa. Acredito que isto também tem de mudar, a ideia de convencimento das massas, de mudança de mentalidades, é um paternalismo. Cada um terá de desenvolver a sua intuição no sentido de uma ética global. Isto são apenas alguns traços muito grosseiros de uma concepção cultural, económica, religiosa e ética.